sábado, 4 de novembro de 2017

Pensamentos

A época moderna dita "pós-verdade" e suas idiossincrasias.

Reflexões sobre os personagens de Pais e Filhos, Turguêniev.

Tanto as respostas dos velhos (à ausência de verdade): conservadorismo, pessimismo, resignação, romantismo, "eruditismo"; quanto a dos jovens: niilismo, anarquismo, socialismo, revolução, ciência/positivismo - tanto uma resposta do pensar/da consciência quanto a outra, se diferenciam unicamente pelo seu MOVIMENTO intrínseco. Sua movimentação, sua afetuosidade. Todos os posicionamentos são um modo de tentar responder não negativamente/reativamente - ao tempo (à impermanência). Sāo um primeiro passo do espiritualismo: "traduzir" certas forças individuais ou coletivas, acumuladas pelo processo civilizatório, em cultura, linguagem: é uma questão de NÃO deixar que impulsos, uma vez ativados por algum PATHOS, se choquem contra as próprias paredes - e acabem se voltando sobre si mesmos: o que gera PATOLOGIA. Falar sobre o mundo é falar de si: toda ciência existe (para além da utilidade/praticidade) como reflexão. Pensar e falar no mundo é um caminho de cura de alguma patologia, rancor, ranço: força da inércia (vis inertiae). Tudo é superfície. O universo tem um propósito estético. Toda sensação de imutabilidade, toda procura por essência, fundamento, "arché", é um mal-entendido, um juízo apressado, uma impaciência, um pré-juízo - um prejuizo. Enfim: toda ciência humana é tanto a luta pelo ganho de consciência quanto contra, quando o NARRAR do mundo se cristaliza, endurece, vira VERDADE, autoridade, definição. Esse processo é também a perda da riqueza estética: pois esta é, necessariamente, inconsciência, afeto, calor e movimento. É o aprendizado eterno: de caminhar junto com o tempo cósmico. De não se rebelar infantilmente por haverem forças superiores a nós (tal era a força dos rituais ancestrais a que tivemos o gosto em destruir): e também não querer dominar ou negociar com esse tempo, confundindo toda a crueldade e vontade de subjugação que há dentro de si com o poder do cosmos; mesa farta a que temos acesso apenas quando se amainam nossas soberbas, rancores, arrogâncias e ascos (todo sentimento gerado da impotência). A espiritualização é o corpo digerindo a si, mastigando, engolindo a si mesmo.